19 de ago. de 2008

Da ingenuidade


Sempre falo por aí que as palavras têm o valor que dermos para elas. Pelo que eu venho estudando de representações sociais, isso acontece no patamar das comunidade. As gírias são um belo exemplo disso. Termos como “medíocre” e “famigerado” (esta no belo conto homônimo de Guimarães Rosa) também.

Mas o jornalista, como formador de opinião, tem que tomar muito cuidado com isso.

Não são tão raros assim casos de pessoas que acham grandes quantidades de dinheiro e devolvem. Isso não devia ser notícia, mas é. No SP TV do almoço a Globo soltou uma matéria de um jovem que deixa 100 paus caírem do bolso. As câmeras filmaram tudo. Instantes depois um menino abaixa, pega a Garoupa, entrega para o guarda e este, ato contínuo também, entrega para o caixa. A grana vai parar nos achados e perdidos.

Boa notícia. Mas aí a Carla Vilhena*, comentando, diz “se não fosse pela ingenuidade do menino, o homem teria perdido seu dinheiro”, ao que se segue um tiozinho pé-rapado que confirma que não hesitaria em embolsar a grana.

Não fala isso, mulher! “Ingenuidade” tem um valor muito negativo. Tá quase ali com “otário”, “mané”. Aí o garotinho, em vez de herói, vira bobo. Má escolha de termo.

Fica a dúvida. E você? 100 paus dando sopa? Você não sabe que o cara que perdeu (e não sabe) tá ali a 3 metros. O que faria? Eu prefiro não comentar...

* - no post original era “Scaranzi”. Que gafe...

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